Fabbio Cortez
Poemas aleatórios
Desequilíbrio
.
Tantas, tantas vezes te reergui
e voltei quieto a meu tombo.
Mas não satisfeita me queres
sob teus derradeiros escombros.
Tantas, tantas vezes te reergui
e voltei quieto a meu tombo.
Mas não satisfeita me queres
sob teus derradeiros escombros.
Aproveitando a homofonia, algumas rimas
.
Dizem brincando que pelo meu nome
devo ser todo o tempo cortês.
Mas viro uma fera quando com fome,
confesso por exemplo a vocês.
E não falo a de comida, ela some
com duas boas mastigadas ou três.
O apetite maior, que mais me consome,
é de boa justiça: um apuro nas leis.
Dizem brincando que pelo meu nome
devo ser todo o tempo cortês.
Mas viro uma fera quando com fome,
confesso por exemplo a vocês.
E não falo a de comida, ela some
com duas boas mastigadas ou três.
O apetite maior, que mais me consome,
é de boa justiça: um apuro nas leis.
Marianna
.
quando você nasceu
eu me vi no todo,
eu era ali o belo cenário do mundo;
eu havia inspirado o ar livre da paisagem
feita das paredes interiores do elevador,
onde ajoelhei pedindo que tudo desse certo.
em ti,
verdadeiro poema,
inspirei-me para viver
muito mais!
senti paz,
muito mais,
pois você também me viu no todo:
reconheceu seu amigo-papai
como reconhecera sua amiga-mamãe,
eu sei,
pois seus olhinhos acenderam
ao encontrar os meus
quando você passou nos braços da enfermeira
pelo corredor da maternidade.
de tal forma
que amei mais o amor:
nascia naquela noite de maio
um sobreamor,
um inexplicável,
raro
e doído amor;
uma tal poesia
que até então eu não compreendia:
era você, Marianna
é você, Marianna!
quando você nasceu
eu me vi no todo,
eu era ali o belo cenário do mundo;
eu havia inspirado o ar livre da paisagem
feita das paredes interiores do elevador,
onde ajoelhei pedindo que tudo desse certo.
em ti,
verdadeiro poema,
inspirei-me para viver
muito mais!
senti paz,
muito mais,
pois você também me viu no todo:
reconheceu seu amigo-papai
como reconhecera sua amiga-mamãe,
eu sei,
pois seus olhinhos acenderam
ao encontrar os meus
quando você passou nos braços da enfermeira
pelo corredor da maternidade.
de tal forma
que amei mais o amor:
nascia naquela noite de maio
um sobreamor,
um inexplicável,
raro
e doído amor;
uma tal poesia
que até então eu não compreendia:
era você, Marianna
é você, Marianna!
Uma Ferrari no engarrafamento
.
(A Fabbio Gabriel)
Perdoem-me, papai e mamãe,
vou tentar ser mais bonzinho...
Puxa, mas sabe o que é?
Eu não sou malvado.
Quando faço pirraça ou bato o pé
ou choramingo querendo alguma coisa
que já tenho aos montes,
é por que tem, sei lá,
um motor grandão dentro de mim
me fazendo correr sempre mais,
dominar a tevê para assistir cada vez
a mais desenhos,
tomar outro sorvete,
querer outros brinquedos
e voltar a correr,
e...
É o motor, papai, não sou eu...
é o motor, mamãe!
(A Fabbio Gabriel)
Perdoem-me, papai e mamãe,
vou tentar ser mais bonzinho...
Puxa, mas sabe o que é?
Eu não sou malvado.
Quando faço pirraça ou bato o pé
ou choramingo querendo alguma coisa
que já tenho aos montes,
é por que tem, sei lá,
um motor grandão dentro de mim
me fazendo correr sempre mais,
dominar a tevê para assistir cada vez
a mais desenhos,
tomar outro sorvete,
querer outros brinquedos
e voltar a correr,
e...
É o motor, papai, não sou eu...
é o motor, mamãe!
Vê-te, sê-te
.
Fecha teus olhos.
Fecha forte teus olhos como nunca o fizeste,
tranca-os com as sete chaves que a Noite,
mãe do Destino,
te deu.
Faze sem medo um breu de dar medo,
amarra na vista a venda de sete cores cegas
que a Vida te disse,
amarrota tua lágrima entre os cílios,
e vê a Luz.
Que a Luz
sussurrará de dentro de teu susto
sobre quais caminhos poderás seguir:
ouve a Luz,
cheira-a,
bebe-a,
toca nos calidoscópios a ti desvendados,
e desvende-te:
sim, verás o que fores,
serás o que vires,
sim, vê-te, cego,
sê-te!
Fecha teus olhos.
Fecha forte teus olhos como nunca o fizeste,
tranca-os com as sete chaves que a Noite,
mãe do Destino,
te deu.
Faze sem medo um breu de dar medo,
amarra na vista a venda de sete cores cegas
que a Vida te disse,
amarrota tua lágrima entre os cílios,
e vê a Luz.
Que a Luz
sussurrará de dentro de teu susto
sobre quais caminhos poderás seguir:
ouve a Luz,
cheira-a,
bebe-a,
toca nos calidoscópios a ti desvendados,
e desvende-te:
sim, verás o que fores,
serás o que vires,
sim, vê-te, cego,
sê-te!
Querer-mais
.
Se minhas pobres rimas
vês lá como boa arte,
decerto nisso me animas,
feliz sou, só que em parte:
em teus olhos me li, mas
desejo mesmo é beijar-te.
Se minhas pobres rimas
vês lá como boa arte,
decerto nisso me animas,
feliz sou, só que em parte:
em teus olhos me li, mas
desejo mesmo é beijar-te.
Rimas pobres, rimas ricas
.
(Da série "O versejador tímido")
Rimas pobres, rimas ricas
para mim mistério são,
e se é te parecer maricas
demonstrar amor demais,
não sei então se sou capaz
de tocar teu coração,
mas com emoção extrema
canto a ti este poema:
Das estrelas és a mais bonita
de todos os meus "une-versos",
pois por ti a poesia infinita
ilumina-me os voos dispersos.
(Da série "O versejador tímido")
Rimas pobres, rimas ricas
para mim mistério são,
e se é te parecer maricas
demonstrar amor demais,
não sei então se sou capaz
de tocar teu coração,
mas com emoção extrema
canto a ti este poema:
Das estrelas és a mais bonita
de todos os meus "une-versos",
pois por ti a poesia infinita
ilumina-me os voos dispersos.
As coisas vivas da noite
.
A cama cansada da gente
riu um riso nervoso,
o soalho a ranger os dentes,
quase um choro:
o criado-mudo censurou o ruído,
mas o abajur, muito elétrico,
beijou de luz branda a cortina,
que se abriu toda, deixando ver-lhe a janela da alma:
então lá de fora, vestido de penumbra,
o céu viu nossa cadência de estrelas trocando desejos
nessa morte recíproca em segredo,
eterno fim dos libertos presos.
Depois,
um chá de camomila,
calma e docemente,
bebeu nossos restos de sede.
A cama cansada da gente
riu um riso nervoso,
o soalho a ranger os dentes,
quase um choro:
o criado-mudo censurou o ruído,
mas o abajur, muito elétrico,
beijou de luz branda a cortina,
que se abriu toda, deixando ver-lhe a janela da alma:
então lá de fora, vestido de penumbra,
o céu viu nossa cadência de estrelas trocando desejos
nessa morte recíproca em segredo,
eterno fim dos libertos presos.
Depois,
um chá de camomila,
calma e docemente,
bebeu nossos restos de sede.
14 falhas e ingênuas redondilhas para recheio de pseudo-haicais
.
Amo tua natureza,
mas não sei fazer haicais.
Se eu metrificar belezas
e emoldurar instantes
posso tornar-me elegante,
ah! será que me lerás?
A tendência oriental
de estrutura tripartite,
muito antiga por sinal,
pode ser que eu imite
no futuro até, quem sabe?
Só que agora dá licença,
deixo esta lacuna densa
antes que a caneta acabe.
Amo tua natureza,
mas não sei fazer haicais.
Se eu metrificar belezas
e emoldurar instantes
posso tornar-me elegante,
ah! será que me lerás?
A tendência oriental
de estrutura tripartite,
muito antiga por sinal,
pode ser que eu imite
no futuro até, quem sabe?
Só que agora dá licença,
deixo esta lacuna densa
antes que a caneta acabe.
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