As coisas vivas da noite

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A cama cansada da gente
riu um riso nervoso,
o soalho a ranger os dentes,
quase um choro:

o criado-mudo censurou o ruído,
mas o abajur, muito elétrico,
beijou de luz branda a cortina,
que se abriu toda, deixando ver-lhe a janela da alma:

então lá de fora, vestido de penumbra,
o céu viu nossa cadência de estrelas trocando desejos
nessa morte recíproca em segredo,
eterno fim dos libertos presos.

Depois,
um chá de camomila,
calma e docemente,
bebeu nossos restos de sede.